segunda-feira, 25 de julho de 2011

Gays comemoram avanço nas eleições municipais



O número ainda é pra lá de tímido. Dos 52.137 vereadores eleitos em todo o país este mês, apenas cinco são assumidamente homossexuais – três deles transexuais. Mas, para o movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), o saldo das urnas é motivo de comemoração. Em 2004, apenas um integrante do grupo conseguiu vaga no Legislativo municipal no interior do Espírito Santo.
Este ano, além de garantir presença na câmara municipal de uma capital, Salvador, o movimento também viu suas propostas serem incorporadas por outros 27 eleitos que, apesar de não serem homossexuais, se declararam aliados no combate à discriminação em função da orientação sexual.
Entre eles, estão prefeitos eleitos de cidades importantes, como Gilberto Kassab (DEM), de São Paulo, Márcio Lacerda (PSB), de Belo Horizonte, Ricardo Coutinho (PSB), de João Pessoa, Raul Filho (PT), de Palmas, Carlito Merss (PT), de Joinville (SC), e Dr. Hélio (PDT), de Campinas (SP). A ex-senadora Heloísa Helena (Psol), eleita vereadora em Maceió, também está entre as apoiadoras da causa.
O movimento gay atuou de maneira ostensiva nestas eleições. Embora apenas cinco por cento dos 100 candidatos lançados pelo grupo tenha sido eleito vereador, a Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) organizou uma campanha de captação de apoio dos candidatos aos seus projetos.
Compromisso assumido
Um termo de compromisso com as demandas da plataforma gay foi enviado a boa parte dos postulantes a prefeitos e vereadores dos principais municípios brasileiros. Para conseguir apoio da comunidade, que conta com 203 organizações em todo o país, o candidato deveria assinar o documento. Ao todo, 221 candidatos se comprometeram com as exigências do grupo.
Na pauta específica da comunidade, há demanda por maior representação pública do segmento, com a definição de um plano municipal que inclua uma coordenadoria da diversidade e a criação de um conselho LGBT.
Os candidatos também assumiram outros compromissos, como estender aos casais homossexuais os mesmos direitos previstos para os demais servidores públicos municipais, incluir temas relativos à sexualidade e à homossexualidade na sala de aula e reconhecer os parques e jardins das cidades como espaço público de livre afeto de LGBT .
O presidente da ABGLT, Toni Reis, explica que o lançamento do termo de compromisso foi uma estratégia traçada pela entidade para garantir apoio de políticos nas esferas municipais, onde muitas das ações a favor do grupo são gestadas. "Precisamos de apoio nas câmaras legislativas e no Poder Executivo, e essa foi a maneira que encontramos para que os candidatos nos apoiassem", justifica.
Balanço positivoPara o coordenador-executivo do projeto Aliadas, braço estratégico da ABGLT no Congresso Nacional, Igo Martini, a eleição deste ano representa um grande avanço para o movimento. "Candidatos ligados a movimentos sociais costumam ter pouca sustentação financeira, então consideramos o resultado muito positivo", avalia.
"Para quem tinha só um, saímos ganhando", acrescenta Toni Reis, referindo-se à eleição, em 2004, de Moacyr Sélia (PR-ES), mais conhecido como Moa, vereador em Nova Venécia, município com pouco mais de 46 mil habitantes, localizado a 225 quilômetros de Vitória. Este ano, Moa foi reeleito com 871 votos. Além dele, outros dois transexuais foram eleitos no último dia 5: Léo Kret (PR), em Salvador, e Isaías Martins de Oliveira (PV), em Patos de Minas (MG). Também serão empossados no início de janeiro os vereadores José Itaparandi (PTB), de Paço do Lumiar (MA), e Sander Simaglio (PV), de Alfenas, ambos assumidamente gays.
A intenção da comunidade, segundo Igo, não é eleger homossexuais a qualquer custo. Para ter apoio do movimento, é preciso apresentar uma plataforma consistente de apoio à causa, defende. Ele cita o deputado Clodovil Hernandes (PR-SP), homossexual assumido, como exemplo de gay que não carrega a bandeira do grupo. "Clodovil não foi eleito pelo nosso segmento. Ele não tem projetos nem na nossa área, nem em área alguma. Não é um nome de referência para nós", critica.

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