quarta-feira, 25 de abril de 2012

INVEJA DOS PERNAMBUCANOS



Rubens Nóbrega
Fui domingo à noite ao Arrudão (Recife) assistir Paul McCartney, um clássico do showbiz internacional. Valeu muito a pena, apesar de hora e meia em fila gigantesca para entrar no estádio e mais duas, dentro, esperando o início do espetáculo.
Mas Sir McCartney compensou com sobras a longa espera e o preço salgado do ingresso. O mito quase setentão cantou e tocou as canções que a gente queria ouvir com a qualidade e vigor dos tempos mágicos em que integrava o quarteto fantástico.
Vou guardar os detalhes do show para contar ao meu neto, Davi, a quem vou dizer que vi e ouvi de perto o Beatle mais completo. Quer dizer, nem tão de perto assim. Das cadeiras, onde fiquei, não fosse o telão... Bem, vamos ao que importa.
O que interessa aqui e agora é registrar que durante o show encantou-me particularmente a reação do público às manifestações de carinho e agradecimento do artista à cidade e ao Estado que o trouxeram pela primeira vez ao Nordeste do Brasil.
Foi muito legal quando ele chamou aquelas 40 mil pessoas ou mais de ‘povo arretado’, depois de saudar num português bem treinado a ‘terra de Luiz Gonzaga’. Dez pra assessoria do cara. Mil pra ele pela simpatia e disposição de cativar pessoas.
Mas a apoteose desse magnetismo deu-se quando Paul saiu do palco juntamente com seus músicos para voltar segundos depois carregando uma enorme bandeira de Pernambuco. O Arruda e seu entorno quase vieram abaixo com a vibração da platéia.
Não vou esquecer. Não dá pra esquecer. Até por que fiquei arrepiado de emoção misturada com inveja ao ver todo aquele povo de pé, por mais de dois minutos, batendo palmas sem parar e gritando Pernambuco, Pernambuco, Pernambuco...
Manifestação verdadeiramente espontânea, quase unânime. Só não foi cem por cento porque muitos dos paraibanos presentes, colunista incluído, ficaram calados e apalermados diante daquele grito do mais legítimo ‘orgulho de ser pernambucano’.
“Ah, como eu queria ver algo assim algum dia na Paraíba”, foi o primeiro comentário que me fiz, lamentando intimamente o nosso atraso em relação ao estágio de crescente auto-estima, prosperidade humana e material por que passa Pernambuco.
Na volta pra casa, enquanto o sono não me dominou fiquei pesando e medindo os acontecimentos daquela noite mágica e provocadora a um só tempo. Provocadora, sobretudo, das reflexões e sinceros lamentos que agora reparto com vocês.
Começo por dizer que todos os meus lamentos resumem-se na indagação que me inspira um filme triste a que assisti há muito tempo na televisão, intitulado ‘Por que tem que ser assim?’ (The Heart Is a Lonely Hunter, Estados Unidos, 1968).
E termino insistindo no questionamento, com necessário acréscimo: “Mas, afinal, por que é mesmo que tem que ser assim na Paraíba? Até quando?”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário